PEPINO DE ALUMÍNIO
Tema: Viktor Tsoi, Amizade, Música
Pepino de Alumínio é um romance escrito pelo autor sul-coreano Kang Byoung Yoong, que apresenta os encontros e desencontros de pessoas, tendo em comum, o carinho e a admiração pelo cantor Viktor Tsoi.
O livro foi publicado no Brasil em 2018 pela Editora Topbook e com tradução de Woo Young-Sun.
A música surgiu para mim. Sem que eu tivesse planejado, chegou como se um desconhecido aparecesse e pedisse amizade. Eu nunca soube se foi um bom amigo ou um amigo ruim. Apenas soube que foi um amigo. (p.62)
A histórica começa com Vitório, um garoto coreano que, em um dia qualquer, decidiu plantar um pepino de alumínio (isso mesmo, um pepino de alumínio). Por ser considerado nerd, ele era alvo constante de bullying e frequentemente atacado por alguns valentões na escola, os "espíritos de porcos", como ele costumava chamá-los. Seu maior objetivo era passar despercebido o máximo possível no dia a dia, sempre ao lado do seu único amigo, Jeon.
No capítulo seguinte, o autor nos apresenta Viktor Tsoi, vocalista e líder de uma famosa banda de rock russa. Fiquei em dúvida se ele era uma invenção da história, mas não era.
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| (Foto: Sergei Borisov / Viktor Tsoi) |
Viktor Tsoi foi vocalista da banda KINO, que teve o maior sucesso na década de 80 na Rússia. Ele pertenceu à terceira geração da etnia Koryo na União Soviética (coreanos que migraram para o Extremo Oriente no final do século XIX). Infelizmente, ele morreu aos 28 anos em um acidente de carro, após colidir de frente com um ônibus.
O ponto em comum que liga Viktor à Vitório é a data de 15 de agosto de 1990: no mesmo dia em que Viktor morre, Choi Vitório nasce. Essa conexão ganha ainda mais força quando, após ser ameaçado pelos valentões da escola a ouvir música russa, Vitório é apresentado a Viktor Tsoi e mergulha em um novo universo que o transforma completamente.
Se antes ele desejava passar despercebido, a música o faz querer ser livre!
Quanto mais reprimido ele se sentia, maior era seu desejo de ouvir música. E não apenas ouvir, mas também cantar. Ele queria cantar a qualquer instante, a qualquer momento, e se continha durante as aulas, embora, uma ou duas vezes, não tenha se contido e cantou mesmo assim (hahah!).
Outros destaques da obra são os personagens Jeon, Olga e Vitória.
Jeon, amigo de Vitório, gostava de fazer cegonhas de origami com papéis dourados. Isso me lembrou a lenda dos mil tsurus, aves sagradas do Japão, segunda a qual, ao dobrar mil delas com um desejo profundo e sincero, ele se realizaria. Além disso, os tsurus também podem simbolizar saúde, felicidade, longevidade e prosperidade.
Jeon deixa a última cegonha de presente para Vitório, para que o amigo realize o seu maior desejo. Ao ler o livro, vocês entenderão o porquê.
Já Olga, uma mulher russa, nutre um laço quase espiritual com Tsoi e o mantém vivo por meio da música, tocando e cantando suas canções nas ruas. Certo dia, ela participa de um concurso oral de língua coreana e vence, ganhando uma viagem à Coreia do Sul. Lá, ela tenta encontrar vestígios de Tsoi, movida pela esperança de que, de algum modo, ele ainda possa existir em algum lugar.
"Olga estava esperando. Ela tinha certeza de que iria à Coreia no lugar de Viktor tsoi. Lá, esperava encontrar-se com o Viktor Tsoi de outra encarnação. Sua esperança era escutar a voz de Viktor Tsoi" (p.94)
Enquanto isso, Vitória, prima de Vitório, formada em língua e literatura russa, também se prepara para o futuro, com o sonho de um dia visitar a Rússia. Ao fazer isso, ela consegue unir todos os fios soltos da história, conduzindo o livro a um final emocionante e satisfatório.
Além da banda KINO, o livro também menciona várias vezes a canção Orchid, do Black Sabbath, a banda coreana Brown Eyes e a Copa do Mundo realizada no Japão e na Coreia em 2002. Embora muitas músicas apareçam ao longo da obra, a mais citada entre as passagens é Tipo Sanguíneo (original: Группа крови).
O título do livro também faz referência a uma música da banda, Алюминиевые огурцы ("Pepinos de Alumínio" em português).
Ao encerrar a obra, encontramos um posfácio com uma entrevista do autor, traduções das canções da banda KINO e uma cronologia da vida do cantor.
O livro é uma homenagem ao artista e, como o autor bem diz, em vez de se apoiar em teorias, ele optou por misturar ficção e realidade em um retrato melancólico mas com um toque de humor. Ao ler sobre a juventude de Vitório, me vieram à mente diversas passagens da obra Jun, da autora Keum Suk Gendry-Kim, especialmente a forma como a música permitiu que tanto Jun quanto Vitório transcendessem as formas de subjugação a que estavam submetidos.
Assim como Jun, Vitório também é especial, e a música é o escudo pessoal deles.
Tudo ao redor se transforma quando eles cantam.
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| (Foto: Кино - em português, banda Kino) |
Referência Bibliográfica
Yoong, Kang Byoung, Pepino de Alumínio, tradução Woo Young-Sun, 1a ed. Rio de Janeiro, Editora Topbooks, 2018.



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